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FS The Last Movies 2: Stanley Schtinter

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The Last Movies 2

Stanley Schtinter
4 de Maio de 2024

Todos nós teremos um: Reflexões sobre o último, & cada homem e cada mulher como uma estrela por Stanley Schtinter, anti-curador, des-operário, historiador alternativo & artista dos artistas


“Fotografamos as coisas para as tirarmos da cabeça. As minhas histórias são uma forma de fechar os olhos.” — Franz Kafka


“Sem imaginação, só há pornografia.” — Byung-Chul Han


Last Movies é um programa cinematográfico, um livro e uma experiência duracional de imagem em movimento que oferece uma alternativa ou perspetiva paralela do primeiro século de existência do cinema, navegada através dos filmes finais vistos por algumas das figuras públicas mais notáveis.


Pela sua natureza fundamental, o princípio organizador de Last Movies retira o meu juízo de valor enquanto curador/ programador, antes de tudo o resto. Não importa se eu penso (ou vocês) que estes filmes são bons (ou maus). Não controlo quem participa neles, o “elenco”, se quiserem, e claramente não controlo o quê. A inclusão depende do escrutínio dado a figuras públicas nos seus últimos dias e horas, no sentido em que o que viram, se é que viram algo, se torna uma parte da história da sua vida. Esta informação tendencialmente deriva de uma relação estranha e predatória com as celebridades, encorajada pela cultura hegemónica. Se existe um viés na lista não é meu, mas antes encontra-se codificado na narração do século XX, que eu parasito.


O acaso, ou o destino, é o verdadeiro curador: a intervenção caótica ou divina para dar uma lição de humildade ao futuro selecionador. O destino intervém como sempre o fez e sempre o fará, independentemente de quão secularizado e achatado e programado o mundo, tal como nos é apresentado, se torna. Depende de vocês, o público, apreciarem os encontros entre os sons e imagens que constituem estes filmes, com as mentes e  os corações que os viram pela última vez.


As primeiras pessoas a aceitarem este desafio foram as “Batalhantes” que assistiram à estreia, em 2023, de Last Movies nesta apresentação duracional, o meu formato preferido para o programa.


Este número de horas permite-nos ir desde (quase) os primórdios do meio cinematográfico, com, por exemplo, Franz Kafka a ver The Kid, até aos dias de hoje, com Jean-Luc Godard a ver a sua última obra, e um filme representativo de cada época pelo caminho (sequenciados cronologicamente). Um dia e uma noite é também a medida primária e mais tangível da experiência humana; a unidade aristotélica do tempo: algo acontece.


Há um ano, aqueles “Batalhantes” estiveram à altura do desafio das 17 horas de duração institucionalmente atribuídas ao programa. 101 mantiveram-se em rota, do princípio ao fim. Sentaram-se nas mesmas cadeiras nas quais vocês se sentam, como tantos outros, mortos e vivos, se sentaram antes. (Não se deixem enganar pelas cadeiras que parecem estar desocupadas.) Se isto vos parecer demasiado macabro, levem em consideração que Last Movies não é, na verdade, um projeto sobre a morte. É uma afirmação da vida através do meio que a imita. Um espaço de jogo. Assim, a vossa experiência do tempo, aqui neste espaço, hoje desdobrando-se no amanhã, o amanhã a colapsar no hoje, deve seguir a ambição de Nietzsche para qualquer aniversário (mais do que para um funeral): “como todas as verdadeiras celebrações... uma abolição do tempo”.


O tempo é a mais antiga das velhas construções ideológicas, a sua história uma projeção e uma narrativa como qualquer outra. Analisar qualquer história, fantasiosa ou “verdadeira”, é descobrir buracos, revelar preconceitos, agendas e motivações que podem não ser imediatamente aparentes. No decurso da investigação do livro que acompanha este programa de cinema, deparei-me com inúmeras imprecisões e invenções nas histórias destes filmes e daqueles que os viram. Quando um escritor recolhe, sem questionar (preguiçosamente) informações de outro, começa a formar-se a verdade evangélica. Mas é essencial lembrar que todos os relatos históricos têm uma dose de especulação, mesmo que o autor tenha estado presente no evento registado. E só porque podemos não ser capazes de fazer sentido imediato de uma conexão ou coincidência, isso não a torna menos presente, menos real. Vejamos o caso dos povos “primitivos” ou das Primeiras Nações que se deparam com a câmara pela primeira vez, receando que a fotografia lhes roube uma parte essencial de si próprios. Esta é uma história muitas vezes repetida com um riso paternalista, servindo a insistência do mundo “desenvolvido” no progresso a qualquer custo, e nunca para justificar a premonição indígena. Mas eles tinham razão. Afinal, eram os últimos.


Lançar uma “luz satânica” é necessário; a história inteira como a conhecemos pode ser, e deve ser, reescrita a partir de baixo. Se há aqui algum empreendimento partilhado—se Last Movies é generativo para lá do nosso período concedido desta noite e de amanhã—talvez seja este.


Esta nova apresentação do programa no Batalha Centro de Cinema (The Last Movies 2) soma novas estreias à lista. Personagens que não apareceram na narrativa de Last Movies até agora: Yves Klein, o pintor destruído pela representação da sua obra artística no documentário intitulado Mondo Cane, que sofre um ataque cardíaco fatal horas após a estreia do filme; temos Diana Spencer, a chamada “Princesa do Povo”, que alegadamente se escapuliu para ver Tom Cruise em Jerry Maguire, com todos os minutos que viveu em seguida registados sem rodeios; Agatha Christie, tomada pela demência avançada nos meses que se seguiram à sua última ida ao cinema, para a exibição da estreia de Murder on the Orient Express, adaptação de Sidney Lumet do seu mistério mais famoso; e Betty Grable, que se diz ter insistido numa última exibição do seu filme preferido, A Star is Born, que faleceu “antes da hora”, como se costuma dizer, com 56 anos, a cara (e pernas) mais famosas da II Guerra Mundial, perdidas para a arrogância dos novos.


Nasce uma estrela e, por isso, uma estrela tem de morrer. No tempo que demora para que a luz de uma estrela chegue até nós, o planeta de origem está, muitas vezes, já morto (lembro-me aqui de um astrónomo em Nostalgia da Luz, de Patricio Guzmán, que usava a câmara como exemplo para argumentar que o tempo presente não existe; que tudo é passado, exceto o futuro... e em breve também esse). Aleister Crowley, escritor e ocultista inglês (The Wickedest Man in the World), escreveu: “Todos os homens e todas as mulheres são uma estrela. Uma estrela é uma identidade individual; irradia energia, vai, tem um ponto de vista. O seu objeto é tornar-se o todo ao estabelecer relações com outras estrelas. Cada uma dessas relações é um Acontecimento: é um ato de Amor sob o Desejo”.


Este não é um apoio à distopia capitalista e individual, que exige a nossa constante representação do "eu" refletido no ecrã negro. Isto não são os 15 minutos de Warhol. As palavras de Crowley pretendem quebrar a alucinação consensual do centro no triunfo global do capital no assassinato do social. Pretendem inculcar um movimento em direção ao vosso verdadeiro desejo; à vossa perspetiva total; o alinhamento da nossa vida com os nossos destinos, e a suprema libertação do tempo e do ego em jogo com e rendição a outro.


Teremos todos um ultimo filme e a morte é aquilo que partilhamos em comum, mas a vida é o que temos. E assim é, de forma luminosa, tão luminosa: enquanto olho pela cabine de projeção por cima de vocês, o que me atrai não é o fogo eléctrico dos fantasmas de luz enrolados no ecrã à frente, mas sim a vossa magnificente constelação vibrante no auditório debaixo do céu.

Batalha Centro de Cinema

Praça da Batalha, 47
4000-101 Porto
+351 225 073 308

batalha@agoraporto.pt

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