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Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa!
Ellen Lima Wassu
27 de Abril de 2024

“mas as árvores são encantadas, tinham espíritos dentro delas. As árvores compridas acabaram, mas os cantos delas ainda existem.”


O canto de saudade das árvores compridas em contraste com as imagens aéreas do território Tikmũ’ũn (Maxakali) completamente desnudo dão o tom de manifesto que inicia a obra Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa. “Yãg Mũ Yõg Hãm” é o grito que entoam os Maxakali frente ao gesto de escrita dessas palavras em uma parede da cidade onde mais um membro de seu povo fora assassinado.

O gesto, que se apresenta em tom de protesto e tributo, marca mais uma mobilização dos Maxakali para denunciar e confrontar o assédio, as ameaças e destruições com que lidam essas populações desde os tempos da colonização. A narrativa mescla reivindicações atuais com falas e imagens históricas, revelando como o povo Maxakali vai percebendo-se constantemente encurralado pela multiplicação de brancos ao seu redor e suas concepções radicalmente opostas sobre território.

Território para os povos indígenas significa o próprio corpo, espírito e sustento. Esse entendimento é radicalmente oposto à lógica sistêmica capitalista que compreende o território como um meio, um recurso a ser consumido, um lugar de onde se tiram coisas. No pensamento indígena, como frisa o pensador Ailton Krenak, território “é um lugar que você tem que pisar nele suavemente, andar com cuidado nele, porque ele está cheio de outras presenças”. Em outras palavras, o território para os povos indígenas é um ente vivo.

Os diretores Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero imprimem a gravidade dos conflitos em sua narrativa entrevistando membros da comunidade. Em uma sala de aula, pessoas narram o assassinato de seus familiares, enquanto esses nomes são escritos no quadro branco. As personagens denunciam que suas vozes não são consideradas e apontam o desconhecimento da sociedade nacional quanto a sua atualidade.

Apresentando uma estética envolta em tensões, a obra tem sua motivação claramente exposta de ser um “documento para o Governo ver e devolver nossas terras”. Essa afirmativa nos oferece uma pista sobre o cinema indígena brasileiro; ele tem-se apresentado como um dispositivo que opera num caráter essencialmente de urgência e contingência. A câmera se move também com aqueles que movimentam a resistência. Nos informar pelo olhar daqueles que diretamente são afetados. Por essa e outras razões, é necessário frisar a pertinência e a solidez de produções de narrativas indígenas realizadas por indígenas em contraposição a narrativas generalistas, produções documentais ou etnográficas. Eis o abismo entre as linguagens: a narrativa indígena não representa, mas apresenta sua própria realidade.

Nũhũ Yãg Mũ Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa é um precioso documento sobre coragem e resistência. A violência retratada contra os territórios indígenas é contrastada pelas cosmologias e narrativas de criação do povo Maxakali. Neste cenário, o canto que abre o filme chorando a extinção das árvores compridas encontra a afirmação de que elas ainda existem nas firmes palavras finais dos protagonistas: “Nós vamos cantar os cantos que surgiram aqui nessa nossa terra, e nós vamos falar: essa terra é nossa. Que essa terra volte a ficar viva para nós”. E como os cantos das arvores antigas, enquanto existirem, haverá resistência.

Ellen Lima Wassu é poeta, ativista e investigadora indígena. É mestra em Artes e doutoranda em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas na Universidade do Minho. Publicou, em 2021, Ixé ygara voltando pra ’y’kûa, livro de poesias escrito em língua portuguesa e tupi antigo, e tem textos publicados em diversas revistas literárias e antologias. Atua nas áreas de arte, cultura e literatura e sua prática relaciona poesia, performance, estudos contracoloniais e escritas ensaísticas.

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