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Love Affair, or the Case of the Missing Switchboard Operator

Christopher Small
17 de Setembro de 2025

Não fiz um levantamento meticuloso, mas arrisco-me a dizer que uma das palavras mais frequentemente ditas em todo o cinema clássico é, sem dúvida, “operadora”. Se retirarmos deste cálculo o mar de conversas de circunstância, começamos a perceber o quanto esta palavra — dita ao transmissor, com o auscultador encostado ao ouvido — vem à tona repetidamente. “Operadora, operadora.” Nas longas-metragens anteriores aos anos 60, as personagens mal conseguem chegar a meio do filme sem invocar a intervenção desta figura invisível num assunto pessoal que se revela essencial para o desenrolar ordenado da narrativa.

O cinema esteve ligado ao telefone desde o início. Os telefones começaram a ser usados de forma generalizada precisamente quando a sétima arte saía da infância, tornando-se presença habitual nos lares ocidentais nas primeiras décadas do século XX. Tal como ir ao cinema, usar o telefone tornava o mundo mais pequeno, encurtando distâncias físicas e envolvendo os utilizadores (ou espectadores) em histórias que ultrapassavam largamente os limites do seu quotidiano. Os cineastas, por sua vez, rapidamente criaram uma infinidade de formas de representar o telefone e integrá-lo na narrativa dramática, inventando, nesse processo, novas linguagens cinematográficas. Contudo, raramente, vemos a imagem da operadora telefónica, que tantas vezes é invocada — com exceção de breves aparições em montagens que ilustram buscas frenéticas por ligação numa cidade em movimento. As operadoras são uma presença invisível no cinema clássico, uma força de trabalho oculta que conecta os fios do enredo sem nunca dar a conhecer a sua aparência, pensamentos ou sentimentos.

No final da década de 1970, à medida que o cinema clássico dava lugar a um novo modelo — transformado pelas novas vagas e pelos novos autores —, a maioria dos telefones domésticos já funcionava com ligações automáticas e discos rotativos, afastando gradualmente a indústria das operadoras de central, dominada por mulheres, que outrora desempenhara um papel crucial tanto na sociedade como no cinema. Na Jugoslávia de 1967 — ano em que o sérvio Dušan Makavejev estreava a sua segunda longa-metragem, Love Affair, or the Case of the Missing Switchboard Operator (Ljubavni slučaj ili tragedija službenice P.T.T.) —, essas operadoras permaneciam, talvez paradoxalmente, como um símbolo moderno e em voga, sendo que a sua obsolescência iminente era adiada pela lenta adoção da tecnologia ocidental num país de regime socialista.

Conhecido sobretudo pelo seu estilo político-ensaístico de fazer cinema — e pela sua ligação a certas comunas e cultos de extrema-esquerda controversos —, Dušan Makavejev foi sempre um artista mais doce e humanamente terno do que uma síntese superficial da sua obra poderia sugerir. Filmes polifónicos e politicamente provocadores como W.R.: Mysteries of the Organism (1971) e Sweet Movie (1974), que geraram polémicas infindáveis e foram rapidamente censurados pelo Estado, devido à forma como exploravam e celebravam políticas sexuais libertárias, são, acima de tudo, sobre o detalhe humano — tanto quanto sobre qualquer ideia ideológica abrangente. Love Affair, or the Case of the Missing Switchboard Operator trata do assassinato sem sentido de uma jovem e bela operadora de central telefónica, morta pelo seu companheiro. A narrativa é contada de trás para a frente, mas sem qualquer mistério real: ele é alcoólico, é ciumento e mata-a num acesso de raiva estúpido. Apesar da dureza das cenas que emolduram o filme — alternando entre a análise forense do crime e o cadáver encharcado, e o espetáculo da sua morte absurda —, o que o espectador retém é a sensibilidade das observações de Makavejev, quase infantis, mesmo quando utiliza a intriga para traçar conexões irreverentes entre os vários absurdos da vida urbana moderna e, através de excertos de cinejornais, a educação ideológica imposta pelo Estado. “Vai haver uma reforma do homem? O novo homem vai manter alguns dos seus antigos órgãos?” — lê-se num letreiro desconcertante, antes de sermos apresentados ao Dr. Alexander Kotić, um sexólogo idoso que declara: “A sexualidade interessa-me imenso — cientificamente, claro.” Enquanto Kotić nos mostra uma série de desenhos e gravuras sexualmente explícitos ao longo da história, torna-se evidente que esta é a forma típica e atrevida de Makavejev ligar o “caso de amor” do seu filme a uma continuidade histórica mais ampla de representação artística e reflexão sobre as relações de género.

A Jugoslávia tem as suas contradições, mas é, para Makavejev, um espaço de experimentação e libertação — ainda que caótico e limitado. Ao fazer da sua protagonista uma húngara étnica, que enfrenta dificuldades em adaptar-se aos costumes da Belgrado maioritariamente sérvia e do seu companheiro, Ahmed, um muçulmano montenegrino, o realizador documenta a diversidade da Jugoslávia socialista num momento que poderá ter sido o auge das suas ambições e potencial — mesmo enquanto era também palco de protestos anticlericais, infestações de ratos e obras intermináveis que iam transformando a cidade, tijolo a tijolo. Tudo isso nos é mostrado! Muitas vezes, é a própria montagem que força estas ligações: passamos de cenas idílicas de intimidade num apartamento para imagens de igrejas a serem invadidas e profanadas, ou de grupos a caçar ratazanas em estaleiros de construção ao ar livre, espalhados pela cidade. Em Makavejev, nenhuma ideia é demasiado óbvia para ser justaposta — e tudo, por mais desconexo que pareça, participa de uma continuidade.

Trabalhar como telefonista era uma das poucas ocupações nas quais mulheres solteiras podiam ter um emprego remunerado — uma forma de trabalho repetitiva e mecânica que, apesar da sua monotonia, parecia incorporar a empolgante interligação da vida urbana moderna. A função desta profissão, tanto em Love Affair, or the Case of the Missing Switchboard Operator como noutros contextos, é precisamente a de facilitar a ligação entre sons e pessoas distantes, em extremos opostos da linha. Ou seja, um pouco como o próprio Makavejev — a ligar cabos temáticos para iluminar a complexa central telefónica do seu cinema.

Christopher Small
Christopher Small é crítico de cinema, programador e editor, e vive em Praga, na República Checa. É responsável pelo editorial e pelas publicações do Festival de Locarno, incluindo a revista diária Pardo, e dirige a Academia de Críticos desde 2017. Durante quatro anos, foi curador internacional da DAFilms e, entre 2019 e 2021, integrou o Comité de Seleção do Sheffield DocFest. É fundador, coeditor e editor da Outskirts Film Magazine, uma publicação anual impressa dedicada ao cinema do passado e do presente.

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