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FS Los Ingrávidos, Sessão 2: Shamanic Visions: Ellen Lima Wassu

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Los Ingrávidos

Ellen Lima Wassu
16 de Fevereiro de 2024

Imagens em transe: do ritual ao político

“Como pode um século ou um coração girar sem que ninguém se pergunte para onde foram todos os indígenas?” — Natalie Diaz


“É preciso falar, escrever, performar, atuar, enfeitiçar, pois, em matéria de arte para nós, povos indígenas, a obra não basta. É que estamos de facto em uma grande e, quem sabe, definitiva jornada no mundo dominante para compor a gênese de mais uma passagem plena — da inconsciência coletiva à substituição de nós por outras experiências supraexistenciais.” — Jaider Esbell


O significado de transe, no sentido que compartilhamos socialmente, pode ser percebido de duas formas: a primeira, como um estado alterado de consciência, no qual alguém se encontra na abstração daquilo que conhecemos como realidade; a segunda diz respeito a uma conjuntura crítica, um momento de crise. É através da experiência do transe, em ambos os sentidos mencionados, que acessamos a obra do Colectivo Los Ingrávidos (Tehuacán, México). Neste ciclo, as obras selecionadas se dividem em Cinema Político e Visões Xamânicas. Os filmes escolhidos reúnem aspetos substanciais que apontam o caráter revolucionário dessa prática artística.


Na primeira parte, o transe como crise se apresenta no autodenominado Cinema Político de Agitação, através das mais variadas denúncias de violências sistêmicas. Os aspetos mais fortemente percebidos nas obras evidenciam um elemento determinante dessa estética: o Povo. Em suas teses, o Colectivo aponta para três dimensões políticas de povo: O suposto Povo, o Povo que falta e a População. E denuncia como a representação midiática manipulada pelos governos corporativos são uma forma de excluir o povo e modelar sua imagem de modo a transformar o suposto Povo e o Povo que falta em População. Nos filmes ¿Has visto?, Impressions for a Light and Sound Machine e The Sun Quartet (esse último dividido em quatro partes), acedemos a violência dessa operação através de profundos textos poéticos que denunciam traumas coletivos. Além das vozes, tons, imagens e ausências (essa última como uma escolha estético-política de evocar e presentificar o povo que falta). Em outra abordagem estratégica, utilizam a apropriação de imagens documentais que têm origem nessa representação midiática aprisionadora para intervir nelas de modo a lhes oferecer autonomia, afirmando suas identidades para além da imagem moldada de população.


Em Visões Xamânicas, narrativas cosmogonicas ancestrais são mobilizadas em paralelo a poderosos textos que se compõem com imagens altamente hipnotizantes. Artefatos ancestrais se unem a elementos como fogo e terra, ritualizando na narrativa visual a evocação do sagrado. Da mesma forma que interroga o processo ritual do transe pela experiência cinematográfica. O Coletivo indígena anuncia o “materialismo xamânico”, que, de modo resumido, lida, em sua forma material, com a contingência dos conteúdos da imagem em sua relação autofágica, ao mesmo tempo que fratura sua temporalidade. Isso conduz a parte xamânica, onde o material audiovisual se vincula à indução do transe através das intervenções, texturas e ritmos que causam um tipo de arrebatamento sensorial, apresentando uma ontologia que é, antes de tudo, ancestral.


Los Ingrávidos mobiliza, em suas obras, uma poderosa força política de resistência, ao desviar da lógica hegemônica de pensar a imagem separada de sua forma espiritual e ritualística; contrariamente, eles desmantelam, subvertem e reelaboram as narrativas visuais dominantes. Da mesma forma que reivindicam a força e importância das cosmogonias na contemporaneidade, aproximando o cinema do sagrado, da memória viva, do social, do político e do ritual, numa prática integrada na direção de uma nova forma de reivindicação da presença indígena na produção de imagens.

Ellen Lima Wassu

Ellen Lima Wassu é poeta, ativista e investigadora indígena. É mestra em Artes e doutoranda em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas na Universidade do Minho. Publicou, em 2021, Ixé ygara voltando pra ’y’kûa, livro de poesias escrito em língua portuguesa e tupi antigo, e tem textos publicados em diversas revistas literárias e antologias. Atua nas áreas de arte, cultura e literatura e sua prática relaciona poesia, performance, estudos contracoloniais e escritas ensaísticas.

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